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O que revelam as manchetes sobre o emprego?


Em março, denunciávamos como a mídia burguesa manipulava os números da indústria para apresentar os dados deste setor sob uma perspectiva otimista[1]. Já então afirmávamos que o seu objetivo era convencer a classe operária da capacidade do governo golpista de melhorar a situação econômica do país. Esse discurso não é uma novidade – dizíamos então –, sua finalidade última é obscurecer o fato de que é o regime capitalista o verdadeiro responsável pelos sofrimentos e as tristes condições em que vivem os trabalhadores.

O jogo de palavras da grande mídia para iludir sobre as reais condições econômicas continua. Agora eles pretendem fazer crer que os indicativos sobre o emprego são bons e demonstrar que o pior da crise já passou. Os trabalhadores – afirmam – podem ficar sossegados e esperar enquanto as coisas melhoram.

Seu objetivo tático específico é demonstrar que o país encontrou o caminho certo desde o golpe. Sua preocupação maior é que a crise política mais recente se desdobre sem comprometer o predomínio político da nova agenda.

Há dois dias a Folha de São Paulo comemorava, em manchete, “a primeira queda do desemprego, desde 2014”[2]. Em editorial de sábado, acalentava o coração de milhões de desempregados com “os sinais de que o pior tenha ficado para trás” e com a visão de uma “lenta queda do desemprego”[3].

O que a Folha comemora é na verdade uma taxa de desemprego de 13%, no trimestre de abril a junho; o que quer dizer a cifra extraordinária de 13,5 milhões de desempregados. São 690 mil desempregados a menos do que em março, diminuição motivada pelo crescimento do emprego informal. Mais de um terço da população ativa – 36,7% – encontra-se nessa categoria, somada aquela das empregadas por conta própria. Um indicativo nada otimista.

Como a própria Folha é forçada a admitir, a contragosto, esse não é um indicativo de recuperação econômica, mas sim, de que a retração do consumo e do investimento se encontra ainda por reverter, levando as empresas a demitir e os trabalhadores a informalidade. Porém, todo o peso de seu condicionamento ideológico e a manipulação política, o leva a insistir que tal quadro “não deixa de ser uma boa notícia”.

Em seu editorial do dia 29 afirma “é o primeiro passo rumo à recuperação”, e destaca que, “Aos indicadores do emprego se somam outras evidências de que a economia encontrou o fundo do poço e começa a ensaiar uma tímida retomada”. É uma análise desmentida um dia antes, nas próprias páginas da Folha, pelo coordenador do IBGE, Cimar Azevedo, “Não dá ainda para saber se é o início da recuperação, porque os dados estão muito abaixo dos do ano passado”.

O jornal trabalha com os números da última Comunicação Social divulgada pelo IBGE, e mais uma vez imprime nele a marca indelével de sua agenda golpista. Comemora a queda de 4,9% na população desocupada, redução de 690 mil pessoas, que um dia depois foi arredondada para 700 mil, por fiz de praticidade, é claro.

Se nos debruçamos sobre documento, porém, notamos que todos os números referentes ao emprego são piores, na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.

A taxa de desemprego do semestre de janeiro-março deste ano foi de 13,7%, enquanto a de abril-junho foi de 13%, porém, no ano passado, foi de 11,3% no mesmo trimestre. O que significa um aumento de 1,7 ponto percentual. O crescimento da população desempregada nesse ano é ainda mais impressionante, 16,4% entre junho de 2016 e junho de 2017 - 13,5 milhões de trabalhadores encontram-se sem emprego no presente momento[4].

O nível de ocupação – que é o cálculo percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar – registrou -0,9% entre o segundo trimestre deste ano e o mesmo trimestre do ano passado, encontram-se agora em 53,7%.

Os postos de trabalho com carteira assinada também registraram recuo na comparação do mesmo período, verificando -3,2%. O que quer dizer 1,1 milhão de pessoas a menos com carteira assinada.

O rendimento médio é considerado estável, verificando crescimento somente para os empregados com carteira assinada no setor privado, o que indica a tendência a piora na remuneração dos trabalhadores, visto que é exatamente o setor informal onde se apresenta o crescimento das contratações.

Mal se completara um semestre desde a concretização do golpe, a imprensa já se apressava em apresentar os sucessos econômicos da ditadura Temer. Eram os números ridículos da indústria que eram utilizados então. Agora, quando nos aproximamos já do primeiro aniversário da deposição de Dilma Rousseff, a imprensa comemora a primeira queda do desemprego desde 2014. O que isso quer dizer na verdade? Um mero jogo de palavras. Na comparação entre o primeiro e o segundo trimestre do ano de 2014, se verifica uma queda na taxa de desemprego. O mesmo não acontece nos dois anos seguinte. Na comparação do presente ano, a queda é de míseros 0,7 ponto percentual, e há uma alta na comparação com o segundo semestre do ano passado. Ainda vemos o aumento de 16,4% no número total de desempregados, existem assombrosos 13,5 milhões de desempregados em todo país. Se observamos a taxa de desemprego de 2014, no trimestre referido ela era de 6,8%, e agora é de 13%. E é isso que comemoram os ideólogos dos grandes capitalistas!? Definitivamente, não são boas novas.

Os sicofantas da burguesia nos contam histórias alegres, todavia, seus sentimentos não são bondosos. Novamente, nas palavras de Cimar Azevedo, “Há mais pessoas sem carteira e por conta própria, que não têm garantias trabalhistas”.

Não está excluída que a nova configuração do mercado de trabalho pós-crise seja o crescimento percentual do trabalho informal sobre o formal; é para isso que se direcionam as medidas das forças golpistas. Dessa forma, já era de se esperar tais pérolas da imprensa vendida, apresentando o aumento da informalidade como uma boa notícia.

Devemos notar ainda outra sutileza da tática avançada pelos meios de comunicação a serviço dos grandes capitalistas. Os esforços em apresentar os “dados positivos” da economia visam garantir a continuidade da agenda econômica atual, em vistas de uma nova transição de gabinete. Desde a crise política de maio, o governo vem perdendo o vigor na execução das contrarreformas. A mesma Folha estampava manchete advertindo que a “Economia não tem folego para esperar incerteza sobre denúncia”[5]. As forças da base aliada, que estiveram sempre envolvidos em intrigas pelo poder, sentem crescente descompromisso com o presidente. O líder do PFL/DEM na câmara afirmou, em entrevista recente, “O DEM defenderá a manutenção da governabilidade, mas no momento que ela estiver ameaçada, é hora de começar a se pensar mais no Brasil que em nomes e partidos e aí fazer uma reavaliação”[6].

Os latifundiários e grandes capitalistas impacientam-se com os esforços de Michel Temer em salvar-se das denúncias de corrupção, pois esses lhe tem paralisado na iniciativa de liquidar totalmente com os direitos dos trabalhadores e aprofundar a ofensiva reacionária. Não está excluída uma nova articulação para liquida-lo e substitui-lo por outro canalha qualquer. Em todo o caso, será uma confabulação entre as forças golpistas. As forças democráticas e populares não devem tomar parte nelas, assim como nada ganharão em depositar quaisquer esperanças em derrotar a ditadura (Temer, Maia ou etc.) golpista via lutas institucionais.

Somente a mobilização de massas, o fortalecimento das organizações socialistas e dos trabalhadores e o desmascaramento das manobras das forças da reação para garantir sua agenda antidemocrática e anti-trabalhista, pode assegurar a vitória contra o atual governo.

O papel dos comunistas no presente momento é o de exercer a vanguarda na luta pela democracia e pelos direitos fundamentais dos trabalhadores. Explicar aos operários que os meios burgueses mentem sobre a possibilidade de sanar a crise através da agenda das contrarreformas. Ao mesmo tempo, buscar estabelecer a unidade das forças democráticas, elucidando sobre a ilusão de pretender derrotar o governo através de lutas parlamentares. Todas as manobras parlamentares, pós-agosto de 2016, levam, inevitavelmente, a lubrificar as engrenagens golpistas, que procuram sustentar o enredo, segundo o qual, deve-se garantir a mais rápida continuidade das “reformas econômicas”, não importa se quem as executará é Temer, Maia ou qualquer um dos seus lugar-tenente.

Para desempenhar como sucesso o papel de combatente de vanguarda na luta contra o golpe de Estado, pela democracia e os direitos fundamentais dos trabalhadores, é necessário saber denunciar cada virada e cada aspecto do discurso mentiroso da grande burguesia. Hoje, ela manobra com os números do desemprego para fazer crer que a situação está se revertendo em decorrência do andamento da sua agenda econômica, e que se deve, portanto, prosseguir mais rapidamente nas contrarreformas. A verdade é que as contrarreformas facilitarão as demissões, aprofundando, assim, as consequências mais negativas da crise e criando um novo quadro no mercado de trabalho, caracterizado pelo aumento da informalidade e a consequente diminuição das remunerações e do nível de vida.

Notas

[1] A manipulação dos números da indústria. In https://www.novacultura.info/single-post/2017/03/11/A-manipulacao-dos-numeros-da-industria-pela-midia-burguesa

[2] Desemprego vai a 13% e tem 1ª queda desde 2014 com alta da informalidade. In http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/07/1905100-desemprego-desacelera-pela-1-vez-desde-2014-e-chega-a-13-no-trimestre.shtml

[3] Há vagas, sem carteiras. In http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2017/07/1905386-ha-vagas-sem-carteira.shtml

[4] No trimestre encerrado em junho, desocupação foi de 13,0%. In http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3484&busca=1&t=trimestre-encerrado-junho-desocupacao-foi-13-0

[5] A economia não tem folego para esperar incerteza sobre denúncia. In http://www1.folha.uol.com.br/colunas/leandrocolon/2017/07/1903733-economia-nao-tem-folego-para-esperar-incerteza-sobre-denuncia.shtml

[6] Gesto de Temer com o PSB beirou a deslealdade, diz líder do DEM. In http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/07/1903508-gesto-do-temer-com-psb-beirou-a-deslealdade-diz-lider-do-dem.shtml

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