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Marielle Franco, presente!


No dia 14 de março de 2018, por volta das 22h, a vereadora Marielle Franco, após sair de um evento intitulado Mulheres Negras Movendo Estruturas, foi executada de maneira brutal e covarde a tiros no Bairro do Estácio, localizado na Zona Central da cidade do Rio de Janeiro.

Não é a primeira vez e infelizmente não será a última que uma lutadora do povo é assassinada pela reação. E não precisamos ir muito longe, basta vermos que o Brasil foi, segundo a ONG Global Witness, pelo 6º ano consecutivo o país que mais mata camponeses por motivos políticos em todo o mundo. E também considerando que a cidade do Rio de Janeiro é uma cidade onde existem inúmeras queimas de arquivo envolvendo milícias e a PMERJ, sabemos que os militantes dos direitos humanos sofrem constantes perseguições e ameaças.

Marielle, a quinta vereadora mais votada em toda a cidade do Rio de Janeiro, foi executada em uma emboscada bem arquitetada que deixou claro que se tratava de um assassinato político. Segundo o Delegado Orlando Zaccone, em entrevista ao RFI Brasil: “Para ser sincero, o tráfico não opera da forma como se deu a mecânica da execução da Marielle. O carro emparelhou, eles observaram o interior do veículo, concentraram todos os tiros na Marielle. O tráfico opera de uma outra forma. Iam sequestrar o carro, levar para dentro de uma comunidade, iam fazer micro-ondas [no jargão policial: colocar vítima dentro de um pneu e atear fogo]. Não existe nenhuma informação em concreto que justifique a possibilidade disso ter sido praticado sem motivação política. Tudo aponta para uma ação de retaliação. Mas, repito, espero do fundo do coração que eu esteja errado.”

Se fosse apenas para calar a voz de Marielle, os terroristas defensores do Velho Estado reacionário, flagrantemente genocida e supremacista branco seriam muito mais sutis. Entretanto, fica claro que a morte de Marielle é uma tentativa de amedrontar todos os lutadores do povo, defensores dos direitos humanos, líderes sindicais, camponeses sem-terra que militam pela reforma agrária, militantes estudantis e todos aqueles que lutam pelas massas trabalhadoras de explorados e oprimidos; principalmente aqueles que denunciam e combatem os massacres ao povo preto por parte do tráfico, polícia e milícias.

O terror como forma de amedrontar é um método próprio do fascismo. A morte de uma vereadora é uma forma de aterrorizar as amplas massas populares de progressistas, sobretudo aqueles que se levantam contra o genocídio negro nas periferias do Brasil.

A cidade do Rio de Janeiro, pode-se dizer, é a cidade onde existe um maior envolvimento do tráfico de drogas com políticos e famílias de políticos de carreira, grandes empresários burocrático-compradores, policiais da ativa, exército, juízes, outros membros do judiciário e o esquema das milícias que aterrorizam moradores de determinadas localidades sob a desculpa de livrá-los do tráfico, extorquindo-os e matando-os, roubando e fazendo exatamente aquilo que dizem estar evitando caso o morador não “contribua”, se configurando como o exemplo mais nítido de Narco-Estado, com esse cenário sendo impulsionado nacionalmente.

O Rio de Janeiro, como em outra ocasião já afirmou a União Reconstrução Comunista ao denunciar e se colocar contrária à Intervenção Militar Reacionária, é um laboratório para todo o Brasil. É, portanto, o Brasil amanhã. E o governo golpista já dá sinais disso por ocasião da própria morte de Marielle. Em uma fala totalmente absurda, o Ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, disse que o governo está no caminho certo da intervenção militar. Zombando da morte de Marielle, que não apenas era contra a Intervenção, mas fazia parte da comissão criada pela Câmara Municipal que fiscalizava a mesma; além disso, ela havia denunciado recentemente abusos cometidos pelos cães de guarda mais brutais do Velho Estado no Rio de Janeiro, o 41º Batalhão da PM (BPM), na Favela de Acari, localizada no Irajá, Zona Norte da cidade. Esse batalhão é o mais letal de todo o Estado do Rio de Janeiro, conhecido como o “batalhão da morte”. Os moradores queixavam-se de que com a Intervenção a violência e a opressão aumentaram, tendo sido registrado nos dois primeiros meses de 2017 60 mortes causadas pela polícia militar, dez vezes mais que em 2016 no mesmo período. Só em janeiro de 2018 41% dos assassinatos violentos naquela região foram de autoria do 41º BPM.

O que o nosso povo vive nas favelas de todo o país, tendo o caso mais emblemático no Rio de Janeiro, onde se concentram a maioria das forças de repressão do Velho Estado, é um imenso genocídio de pretos e pobres, sobretudo nas favelas. Justamente o que a vereadora Marielle denunciou por toda sua vida e com tanto afinco.

Mulher corajosa, enfrentava toda a sorte de inimigos do povo, mesmo aqueles armados até os dentes. Proveniente da Maré, favela localizada na Zona Norte da cidade, que também foi vítima de uma intervenção militar anterior, que levou à diversas violações de direitos, massacres, estupros, invasões residenciais, discriminações de todo tipo, sobretudo raciais, agressões e terrorismo de Estado, Marielle denunciou incansavelmente todos estes crimes contra seu povo. Fazia isso não apenas de seu gabinete, mas ia até a Maré onde nasceu e cresceu, ouvia os moradores, falava com eles e levava suas denúncias para a tribuna (aqui).

A sua morte nos mostra que devemos cerrar fileiras com nossos irmãos e irmãs pretos das favelas, principalmente os proletários, com os camponeses pobres que lutam pela terra, intelectuais progressistas que almejam o socialismo, fundar um Partido Comunista revolucionário, um Exército Popular, nos armar e construir a Guerra Popular Prolongada e a Revolução de Nova Democracia, por meio do cerco da cidade pelo campo, e mostrar que o Estado burguês-latifundiário e semi-colonial no Brasil é essencialmente genocida e supremacista branco, e que por isso, devemos derrubá-lo e fundar um verdadeiramente democrático, a ditadura do proletariado sobre seus inimigos de classe, e que essa é também a única forma de nos defendermos desse genocídio cruel perpetrado pelas classes dominantes retrógradas, herdeiras dos senhores de escravos.

Não existe saída Parlamentar ou pacífica para o genocídio negro no Brasil. A violência contra o povo deve ser devolvida na mesma medida, à exemplo do Partido Comunista das Filipinas e seu Exército Popular, que quando um dos seus é morto pelas forças da reação eles se vingam dos cães de guarda do Velho Estado e também expulsam traficantes das localidades, queimam plantações, eliminam milícias privadas e terroristas.

Apesar da contradição principal que levou a morte de Marielle não ser a racial, e sim o fato da militante ter auxiliado no desmonte de algumas milícias na cidade do Rio de Janeiro e da máfia dos transportes, e por denunciar os ataques contra a população preta e pobre. O massacre ao povo que promove o Velho Estado reacionário é um genocídio racial e era isso que ela denunciava e combatia, não existe uma maneira de separar as duas coisas na realidade, porque elas estão interligadas. E justamente ela dentre tantos militantes dos direitos humanos foi assassinada brutalmente. Os fascistas já a atacam de maneira racista e covarde com notícias falsas, associando-a ao tráfico, e denotando o caráter anti-povo e anti-pátria da reação, pois se um preto é morto, logo, estava envolvido com algum tipo de bandidagem ou marginalidade. O corpo estendido no chão é sempre negro!

De acordo com a perícia da Divisão de Homicídios, o lote de munição UZZ-18 para pistolas calibre 9mm é original, e foi vendido para a Polícia Federal de Brasília. Em 2007 esses lotes foram desviados por um escrivão, e foi a munição das armas que mataram 17 pessoas em Barueri e Osasco, sendo a maior chacina do Estado de São Paulo, tendo sido condenados três policiais militares e um guarda civil. Essa munição também foi usada em mortes envolvendo facções rivais na cidade de São Gonçalo, região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro.

O Velho Estado, não só age em conluio com o tráfico, mas este mesmo é cada vez mais um Narco-Estado, modificando o caráter do tráfico no Brasil em forma de máfia e cartel, aumentando cada vez mais sua intimidade com o Velho Estado e as classes dominantes retrógradas, à exemplo do que aconteceu no México e na Colômbia, onde tráfico, polícia e milícias fazem parte de um mesmo comboio. Essa realidade vem se intensificando com o Golpe de Estado e o avanço do fascismo.

Não podemos ter nenhuma ilusão de que o “Estado Democrático de Direito” irá resolver o problema da criminalidade, pois ele próprio é criminoso, e é criminosa sua existência! As instituições estão totalmente atreladas ao crime organizado e a sua forma de proceder é em sintonia a este.

A única chance das organizações democráticas sobreviverem e defenderem o povo é através das armas, com organização e uma intensa mobilização. Achar que existe outro caminho é uma tremenda ilusão, não devemos mais aceitar que nenhum dos nossos morram!

A execução de Marielle gerou uma imensa comoção, milhões de brasileiros e brasileiras foram às ruas, inclusive na Maré. Que sua dor seja transformada em luta combativa e ódio aos inimigos de classe!

Mao Tsé-Tung, em seu discurso intitulado Servir o Povo, no dia 8 de setembro de 1944, explicando sobre o peso da morte do camarada Tcham Se-Te disse: “Todo o homem tem de morrer um dia, mas nem todas as mortes têm o mesmo significado. Sema Tsien, escritor da China antiga, dizia: ‘Embora a morte colha a todos igualmente, a morte duns tem mais peso que o monte Tai, enquanto que a de outros pesa menos que uma pena’. Morrer pelos interesses do povo tem mais peso que o monte Tai, mas empenhar-se a serviço dos fascistas e morrer pelos exploradores e opressores do povo pesa menos que uma pena. O camarada Tcham Se-te morreu ao serviço dos interesses do povo, razão pela qual a sua morte pesa mais que o monte Tai”.

Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra (injusta) acabe? Clamou Marielle um dia antes de ser executada.

Lembrando o compositor Luiz Melodia, que como é sabido era apaixonado pela escola de samba Estácio de Sá e teve seu corpo velado na quadra da escola: “Se alguém quer matar-me de amor Que me mate no Estácio”. Assim, Marielle Franco entrou para o panteão de heróis do povo e mártires que deram a vida por todos nós e pela nossa luta! Que sua ida não tenha sido em vão! Ela vive no coração de cada brasileiro!

Glória à heroína do povo Marielle Franco!

UNIÃO RECONSTRUÇÃO COMUNISTA

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