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O recrudescimento do Golpe e a ameaça militar


O recrudescimento do Golpe de Estado continua a passos largos, nessa etapa temos os militares assumindo o protagonismo diante da ineficácia dos políticos de simular alguma força perante a sociedade brasileira. Se a intervenção militar ocorrida no Rio de Janeiro neste ano foi um marco da consolidação do papel efetivo do uso das forças armadas na administração pública, como acontece cada vez mais nos últimos anos a partir da Garantia de Lei e da Ordem (GLO), em ocasiões diversas - como grandes eventos esportivos, greves, conflitos agrários e combate ao crime organizado, etc. -, agora, passam a se posicionar mais agressivamente diante do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, evocando um suposto papel de “defensores” da Constituição.

Um posicionamento político mais efetivo por parte destes começou em setembro de 2017, quando o general Hamilton Mourão, em uma loja maçônica em Brasília, declarou que, se acaso o Judiciário não conseguisse resolver o problema político, uma intervenção militar seria necessária. Poucos dias depois o General Eduardo Villas Bôas no programa “Conversa com Bial”, na Rede Globo, frisou as posições de Mourão com outras palavras, de forma mais polida, ambígua e dissimulada.

Em fevereiro de 2018, Michel Temer baixou um Decreto de intervenção federal no Rio de Janeiro, com a justificativa da “manutenção da ordem pública”, tendo em vista um suposto “combate ao crime organizado”. Estes fatos são sintomas gravíssimos que indicam uma ascensão dos militares dentro da estrutura de Estado brasileira. Outro indício disso é que, ainda nesse mesmo mês o general de Exército Joaquim Silva e Luna assumiu o cargo de ministro da defesa, lembrando que desde 1999 um militar não ocupava o posto. Segundo dados da Folha de São Paulo, o presidente golpista trocou civis por militares em diversos cargos estratégicos do governo. Em julho de 2016, o general da reserva Roberto Ramos foi nomeado chefe do gabinete do ministro da Casa Civil Eliseu Padilha; em abril de 2017, o general da reserva Carlos Santos Cruz assumiu a Secretaria Nacional de Segurança Pública (primeira vez que o cargo foi ocupado por um militar desde a sua criação em 1997); em maio de 2017, o general da reserva Franklimberg Freitas assumiu como interino a presidência da Funai, e em julho do mesmo ano foi efetivado no cargo. Esses são apenas alguns exemplos da afinidade e do alinhamento de Temer com as Forças Armadas, demostrando seu caráter antidemocrático e anti-povo.

O ministro Sérgio Westphalen Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e principal articulador da intervenção militar no RJ, cuja família tem ligações históricas com o imperialismo norte-americano, o seu amo, também vem manifestando a sua posição política em diversos momentos. A exemplo de sua fala em uma palestra no Instituto Rio Branco, onde o general sugeriu “medidas extremas” para a segurança pública e elogiou os feitos da ditadura civil-militar no Brasil.

No dia que antecedeu o julgamento do habeas corpus de Lula os militares voltaram a se manifestar clamando a condenação de do ex-presidente pelo STF. Abrindo uma série de declarações por parte dos militares, na manhã dessa terça-feira, dia 03, o general de exército da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa disse ao Estadão que “se o STF permitir que Lula se eleja, haverá intervenção militar”. Seguindo a declaração de Lessa, o General Villas Bôas comentou em seu Twitter que “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais? (…) Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais”.

Depois da posição do comandante do Exército Brasileiro uma série de oficiais militares se pronunciaram em suas contas na mesma rede social. O General Paulo Chagas, publicou: “Caro comandante, amigo e líder, receba a minha respeitosa e emocionada continência. Tenho a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhando e aguardo suas ordens!!”, “Mais uma vez o Comandante do Exército expressa as preocupações e anseios dos cidadãos brasileiros que vestem fardas. Estamos juntos, comandante!”, expôs o General Freitas. “Comandante! Estamos juntos na mesma trincheira! Pensamos da mesma forma! Brasil acima de tudo! Aço!” foi a postagem do General Miotto.

O destaque das declarações dos militares brasileiros foi tamanha que até a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), que possui a segunda maior bancada do Parlamento da União Europeia, comunicou nesta quarta-feira, dia 04, uma nota expressando a sua inquietude com “os rumores sobre uma interferência militar no Brasil”, dizendo também que “o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia”.

Os militares, cães de guarda fiéis da burguesia compradora e do imperialismo, em coordenação com o Golpe de Estado e sedentos por mais espaço no poder político, promovem declarações que são verdadeiras ameaças ao STF. Sua mensagem é clara: querem Lula preso. Tudo isso explicita o caráter anti-pátria e anti-povo das Forças Armadas, que assume cada vez mais um protagonismo ameaçador na conjuntura política atual.

Contudo, devemos nos organizar para rechaçar e expurgar qualquer tentativa de tomada do poder por parte das Forças Armadas, bem como denunciar que a condenação de Lula, em duas instâncias da justiça burguesa, longe de estar ligada a uma suposta luta contra corrupção e contra a impunidade como é vendido na grande mídia, está intrinsecamente ligada ao recrudescimento do golpe de Estado em curso em nosso país. Assim, a perseguição ao ex-presidente e a outros segmentos do campo democrático, como os movimentos sociais, e o protagonismo que vem assumindo os militares no governo caracterizam-se como um avanço das forças reacionárias e fascistas na busca de um controle ainda maior da vida do povo brasileiro.

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